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15.2.15

CHEGUEI AO TOPO, ESTÁ NA HORA DE DESCER





Cheguei ao topo, sim, eu consegui. 

Reconhecimento profissional, carro do ano, viagem de férias pra onde der na telha, como eu bem quiser. Pode ser no resort, na Disney, em Paris ou no Camboja, no final não muda muita coisa. Um turista é sempre um turista, em qualquer lugar 
do mundo. Sim eu venci. 
Isso até aquele dia, não sei, me parece que foi o olhar dele. Eles sempre foram invisíveis, eu nunca tinha notado vida naquelas brechas. 

Até aquele dia.
Eu vi, ele estava lá no Centro Alto, que como sempre, estava abarrotado de pessoas. Eu notei a sua presença, não pude desviar como nas outras vezes, tinha algo naquele olhar, não sei se era ódio, ou uma denúncia, sim, era uma denúncia, mas quem, quem aquele olhar denunciava? Droga. 



Sou eu o denunciado.
 

De repente tudo fez sentido, era a mim, aquele olhar me denunciava e denunciava tudo o que eu havia defendido toda a minha vida, eu me lembrei deste olhar, também o tinha visto na praia só que em outro corpo, era de um garoto da mesma idade, carregava um carrinho daqueles que mais parece um quiosque, era enorme, eu vi o mesmo olhar, logo desviei, assim a culpa não vem, pensando bem, também vi este olhar no Nordeste, era uma menina, devia ter uns 13 anos, pela esquina e o horário, devia ser prostituta, eu passei com o carro em sentido contrário ao seu, quando percebi seu olhar... Acelerei.

O que eu fiz por essas pessoas até hoje? Eu entendi, já estava claro, eu sei da onde as minhas viagens vinham, da onde o meu carro surgia e etc, não era só o meu esforço, porque esforço por esforço, aquelas crianças me dariam um baile em questão de força e resistência pela vida, a questão era mais em baixo. Eles estavam pagando indiretamente, pela a MINHA vida. 

Eu venci, e só pode vencer quem compete. Eu competi, mesmo sabendo que a solidariedade é o princípio fundamental da sobrevivência de um grupo. A competição é pra quem não tem ninguém, ela é solitária. 

Cheguei ao topo, daqui de cima eu posso observar a guerra lá em baixo, escuto os tiros, as bombas, o choro da criança, e o riso de quem assiste de camarote e não faz nada... Colabora com a omissão. 

Cheguei ao topo. Está na hora de descer. 


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