Além de trabalho
pesado, poucas horas de sono e uma perspectiva de futuro não muito promissora,
o lado esquecido da cidade também recebe de presente um belo complexo de
inferioridade.
O dinheiro
determina seu valor, seu grau de contribuição pra roda girar determinará seu
grau de "sucesso" dentro da sociedade do espetáculo.
Se você faz parte
do lado que produz, será condicionado a sentir-se menos humano em relação ao lado que consome.
O lado limpo, higienizado, aonde habita o sucesso,
os bons costumes, o lado que soube bem administrar a herança da família, nunca
esconde seu complexo de superioridade.
Suas festas não me deixam mentir.
Um lado da cidade toma "uma pílula de
anti-depressivo pra dormir, e duas para acordar".
Já o remédio para o sono, no lado cinza é a fome.
Nunca falha, pois sempre é medicado pelos pais:
"Dorme meu filho, dorme que a fome passa"
Um lado, faz doações para instituições
regularmente, só os antidepressivos não bastam, é necessário também a caridade.
Agora a cabeça aquieta no travesseiro.
Mas esse lado não nota, ou não quer perceber, que
ao olhar ao seu redor, tudo que faz sua vida acontecer, tem envolvido as mãos
do lado menosprezado.
O caixa de supermercado, o pedreiro, a padeira, o
costureiro, a mecânica, o lixeiro, a babá, o cozinheiro. Elxs estão em todos os
lugares, dominando todas as funções elementares da vida.
O suor de um lado da cidade, os sonhos sabotados em
nome de algo que não está dando certo, para ambos os lados. A futilidade e a culpa emocional versos o
sofrimento físico e psicológico. Mas
é por pouco tempo.
Em um futuro próximo, um lado da cidade ficará um
dia sem ir trabalhar, só para que o outro lado da cidade possa experimentar... O que é ficar um dia sem comer.
Texto: Ibu Junior Martins Piradju
Arte: RobertYo Arte Ilustração
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